quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Oh! Que novidade!


Esta semana a Prefeitura e a empresa Sertell resolveram suspender o Pedala Rio. Não sabe o que é isso? Eu também não sabia. Tratava-se de um sistema de aluguel de bicicletas públicas. O usuário ia a um dos bicicletários, destravava o veículo, usava-o até outro bicicletário e pagava uma quantia módica. Tudo muito inteligente, limpo e lindo... na Suíça.

Não é difícil adivinhar o que aconteceu. Desde que o sistema foi implantado, no segundo semestre de 2008, nossa educadíssima população não deu mole: 56 bicicletas, mais de um terço da frota, evaporaram. Acho impressionante alguém que conheça minimamente o Rio de Janeiro ter achado que um negócio desses fosse dar certo aqui. Se a Prefeitura espalhasse 15 abacaxis de isopor pela cidade não demoraria muito para que mais da metade deles desaparecesse – mesmo não tendo absolutamente nenhuma utilidade.

O carioca médio não tem o menor zelo pelo seu patrimônio. Cabia à Prefeitura entender as limitações do seu povo e não botar bicicletas pagas com o dinheiro público de bandeja para quem estivesse precisando ganhar um dinheirinho. Tá certo que o sistema é bonito e inteligente. Mas não dá, não rola. Isso aqui é o Rio de Janeiro, uma bagunça que dá certo, e essas coisas não são feitas para lugares assim. Duvido que alguém que conheça a cidade e viu o programa ser implementado tenha pensado algo diferente de “Vai dar merda”.

Outro aspecto interessante do Pedala Rio foi seu profundo impacto na sociedade carioca. Numa cidade com 6 milhões de habitantes em que 320 mil deles utilizam uma malha cicloviária de 140 km, o número de usuários ativos do Pedala Rio era de... 450 pessoas! A pouquíssima adesão ao projeto deveu-se tanto à pouca divulgação quanto ao sistema para destravar a bicicleta e pagar a conta por usá-la. O usuário tinha que encaminhar o pedido por celular a uma central e esperar que ela destravasse o veículo. No final da trabalhosa operação, acho que se o celular do sujeito ainda não tivesse sido roubado já seria lucro.

O Pedala Rio não pegou, mas pegaram o Pedala Rio e levaram para casa. No final das contas, são os ladrões que vão ficar tristes com o fim do projeto, pois só eles e mais 450 bravos usuários utilizavam os veículos constantemente. Ao fim de um ano as bicicletas públicas viraram pó – que a essa altura já deve ter sido cheirado há muito tempo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vai explicar...

O Flamengo foi campeão brasileiro. Achei que morreria sem escrever essa frase, ainda mais quando a partir de 2003 o campeonato adotou o sistema de pontos corridos. A minha descrença justificava-se, pois um torneio em que venceria o que somasse mais pontos ao longo de 38 rodadas, em tese, privilegiava clubes com organização e planejamento – tudo que o Flamengo não tinha nem tem. Mas contra todas as previsões o título foi para o clube da Gávea, conquista que derrubou mitos aparentemente inabaláveis ligados ao sistema de pontos corridos. São eles:

Ganha quem tem estrutura extra-campo – Fora das quatro linhas o Flamengo é um microcosmo do Brasil. Muita gente manda, muita gente rouba e ninguém se entende. Essa zona reflete-se na falta de qualquer ação séria de marketing, em dívidas impagáveis com deus e o mundo e na falta de estrutura para o time, como um centro de treinamento decente. Se a posição na tabela fosse proporcional à estrutura, o Flamengo estaria bem encaminhado para a série D.

Ganha quem faz um trabalho seqüenciado e planejado – O Flamengo não poderia ter mudado mais durante o Brasileirão. Trocou a tática de jogo, os principais jogadores, o capitão, o técnico, o vice-presidente de futebol e até o presidente! Falar em trabalho continuado com um panorama como esse é brincadeira. Orçamento e plano de negócios estão tão próximos do rubro-negro quanto a paz mundial está da humanidade.

Ganha quem tem elenco bom, não apenas 11 jogadores – O banco do Flamengo em determinados momentos do campeonato parecia uma colônia de férias, devido à idade da garotada. Na falta de peças de reposição parte do time de juniores foi promovida na marra. Quando um titular se contundia era impossível manter a qualidade, pois não haviam reservas à altura. Prova disso foi que quando o Adriano se contundiu na penúltima rodada, o substituiu o todo-poderoso Bruno Mezenga (quem?).

Ganha o time que não perde pontos a toa – Um dos maiores defensores dessa lógica é Wanderlei Luxemburgo, que afirma que há várias pequenas decisões no campeonato. Se isso fosse verdade o Flamengo nunca teria sido campeão. Na reta final o time perdeu pontos para o Goiás em casa e para o Barueri, sem contar com resultados displicentes ao longo da competição, como o empate com o então lanterna Avaí, no Maracanã.

Racionalmente o Flamengo não tinha como ganhar. O clube atrasa pagamento, não tem estrutura, não tem elenco forte, não tem planejamento e perde partidas inacreditáveis. Obstante tudo isso, na hora H todo mundo resolveu jogar, a torcida foi junto e tudo fluiu. O Flamengo é o time ilógico de um esporte ilógico. Talvez por isso seja o que atrai mais torcedores de futebol, apaixonados pelo imponderável.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O apagão do Lobão

Na noite do último dia 10 um apagão deixou 18 Estados brasileiros total ou parcialmente às escuras. O Ministro de Minas e Energia Edison Lobão, anta que Sarney impôs ao governo e não entende nada daquilo que administra, tentou explicar a catástrofe empurrando-a para todos os lados. Atribuiu o ocorrido a três raios e ao uso excessivo da capacidade da usina de Itaipu, teses que foram tratadas como piadas pelos técnicos. Depois da série de desmentidos, ficou no ar a pergunta: como mais da metade do Brasil ficou sem luz se temos todas as ferramentas para evitar ocorrências como estas?

A explicação começa no dia 18 de outubro. A edição dominical da Folha de S. Paulo trouxe uma matéria comprovando que devido a um erro de cálculo da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) os brasileiros pagam, desde 2002, R$ 1 bilhão a mais por ano às concessionárias de energia, coisa que o governo sabia. A bomba inflamou a opinião pública, que passou a pressionar por um corte na tarifa e pelo ressarcimento da cobrança indevida (cada consumidor ganharia de volta algo em torno de R$ 110).

À medida que evoluía o trabalho da CPI das Tarifas de Energia Elétrica, criada para investigar o caso, a situação do Ministério de Minas e Energia ficava cada vez mais delicada. De um lado a opinião pública e os industriais exigiam o ressarcimento imediato da bufunfa. De outro, as distribuidoras de energia, politicamente poderosas, tentavam a todo custo evitar esse rombo de R$ 7 bilhões, que ainda viria acompanhado de um corte de 2% nas contas de luz. No meio do caos, o Ministro Edison Lobão patinava para cá, patinava para lá, e não sabia onde enfiar o pepino.

No auge dos debates, quando uma postura firme era cada vez mais exigida do governo e o ressarcimento parecia inevitável... puf! Acabou a energia em quase 2/3 do país sem nenhuma explicação técnica. No dia seguinte a pauta sobre as tarifas parecia que não existia mais. Coincidência, não? O foco do debate sobre eletricidade caiu todo sobre o apagão, e a discussão das tarifas passou a não ser mais do que uma página infeliz da nossa história - um alívio para as distribuidoras de energia e para o governo.

O apagão não foi acidente. Essa sutil falta de luz em mais da metade do Brasil foi obra dos que seriam prejudicados pelo ressarcimento da tarifa indevida. Agora resta esperar que, sem o olhar vigilante da mídia e da opinião pública, os titãs de Brasília assem uma bela pizza e nenhum de nós veja um centavo. O apagão desligou das cabeças brasileiras o tema das tarifas indevidas, e agora não haverá Lobão, vovó, chapeuzinho vermelha, caçador ou três porquinhos que dêem jeito.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mega-Senna

Ayrton Senna correu na Fórmula 1 por 10 anos. Foi campeão do mundo 3 vezes e venceu 41 corridas. Era um piloto de talento extraordinário, e ocupa qualquer lista dos cinco melhores da história do seu esporte.

Gustavo Kuerten também foi um talento brasileiro raríssimo em um esporte individual. O tenista conquistou 30 títulos ao longo da carreira de quase dez anos, incluindo o tricampeonato de Roland Garros. Ele chegou inclusive a ocupar por 43 semanas o topo do ranking dos tenistas profissionais.

Apesar da semelhança entre os dois atletas no que diz respeito ao talento e às conquistas, a diferença entre eles no imaginário popular é enorme. Guga é um ídolo, claro, mas não chega perto do posto de mito ocupado por Senna. É verdade que o ex-piloto era talentoso e vitorioso, mas porque contraiu este status de santo em um país que não costuma cultuar sua história?

Ayrton Senna virou Ayrton Senna basicamente porque foi o Brasil que deu certo quando o Brasil só dava errado. O ápice de sua carreira estendeu-se entre o final dos anos 80 e o começo dos anos 90, uma época em que nada andou no nosso país. Juro que me esforcei para pensar em algo bom do Brasil nesta virada de década, e só me lembrei de “Os Trapalhões” (que não por acaso viraram mitos).

Vamos a um rápido resumo: no cenário político, escândalos de corrupção atingiram os governos caóticos de José Sarney (85-89) e Fernando Collor (90-92). A economia era um desastre, com uma inflação média anual de 764% entre 1990-1994! Nas cidades, os índices de criminalidade começavam a estourar com o crescimento do tráfico de drogas. Na área cultural, o cinema brasileiro estava sucateado - situação que só mudou a partir de 1995 - e na música duplas sertanejas e grupos de pagode substituíram o rock brasileiro no topo das vendas. Nem o futebol, tradicional válvula de escape popular, nos dava alegrias: em 1990 a seleção completou 20 anos sem título mundial ao perder para a Argentina (e-le-le) na Copa. A geração de jogadores era claramente pouco virtuosa.

Neste país em frangalhos, Senna era uma das únicas – senão a única – razão do orgulho do Brasil. Uma vitória dele não era apenas um triunfo esportivo. Mais do que isso, lembrava ao brasileiro que o país dele tinha algum valor, que havia luz no fim do túnel. Além de ser a ilha de alegria em um mar de caos, Senna ainda reafirmava para o mundo inteiro o valor do Brasil, coisa que ele priorizava, como prova a cor do seu capacete e as bandeiras que ele empunhava ainda dentro do carro após as vitórias. Lembro-me de um show no exterior em que Tina Turner chamou Senna para o palco enquanto cantava “Simply the best”. Ver uma cantora americana chamar um brasileiro de “o melhor” era a glória de uma nação que não tinha motivos para sorrir nem para se reconhecer como valiosa.

Creio que a construção do mito Senna também contou com outros dois elementos fundamentais. O primeiro era o apoio escancarado que ele tinha da Globo, então uma máquina de mídia muito mais poderosa do que é hoje. Senna protagonizava feitos gloriosos, e a emissora encarregava-se amplificá-los a partir de uma ampla cobertura. Também não podemos nos esquecer da cereja no bolo da santificação de Senna: sua morte, em 1994, durante o GP de San Marino. Morrer no auge da carreira e ainda de uma forma trágica selou o caráter de mito do piloto.


O auge da carreira de Senna foi também o auge da depressão brasileira. Não tínhamos do que nos orgulhar, mas ele lembrava aos fins de semana que ainda havia luz no fim do túnel, além de mostrar ao mundo que o Brasil tinha algo de decente. Guga também reunia indicadores objetivos para ser um mito, mas o auge de sua carreira não foi em um momento tão oportuno (ou inoportuno) da história brasileira. Senna virou Senna porque foi o Brasil que deu certo quando o Brasil dava errado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Michaelzinho Gaucho



Ronaldinho Gaucho quer se aposentar! A afirmação, feita no último mês pelo jornal catalão Sport, gerou debates no mundo todo. O meia de 29 anos do Milan, claro, desmentiu os rumores alegando que a imprensa deve ter mais cuidado com o que publica e blá, blá, blá. Se a notícia era verdadeira ou não, nunca saberemos. Mas não importa. O importante – e preocupante - é que ela foi verossímil.

Ronaldinho é jovem, um cracasso, mas não joga um bom futebol desde 2006. Até trocou o Barcelona pelo Milan para ver se voltava a produzir, e nada. Como falta de talento seguramente não é o seu problema, resta a conclusão de que a ele falta estímulo. E esse é o problema. Ele é bem sucedido naquilo que gosta, ganha bem para trabalhar e sente-se desestimulado. Porque?

Poderíamos até dizer que é um problema pessoal. Mas ai como explicar que uma notícia de intenção de aposentadoria de Adriano ou de Ronaldo Fofão também seria verossímil? Três dos mais importantes jogadores da seleção em 2006, ainda no auge, não se vêem estimulados para jogarem futebol – mesmo sendo isso aquilo que amam e ganhando bem.

O problema não está nos atletas, mas sim na lógica do esporte. Até a década de 70 a principal função de um jogador era jogar bola (oh!). Na década de 80, com o aumento considerável das somas de capital ligadas ao esporte, surgiu a indústria do futebol. Os grandes atletas deixaram de ser apenas jogadores para virarem ídolos pop, produtos como as estrelas do cinema ou da música. O Ronaldinho, antes de ser um atleta, é uma marca. O seu futebol, em segundo plano, é o que movimenta mais ou menos rápido as engrenagens financeiras que o tem como centro.

Junto com o mar de dólares que invadem a conta do craque vem a série de contratempos da indústria, como a pressão constante por resultados, compromissos comerciais intermináveis e a superexposição – inclusive de sua vida privada. Além dessas pressões do mercado, ele ainda tem que lidar com o próprio meio do futebol, mais sujo do que pau de galinheiro, com disputas no elenco e dirigentes picaretas. Em torno dele há todo um contexto que vai muito além das quatro linhas, e sufoca a diversão que ele possa ter fazendo o que gosta.

Por anos ele deve ter empurrado essas encheções de saco com a barriga, mas chegou uma hora em que o desestimulo reinou. Como todo jovem ele começou a carreira querendo sucesso e riqueza. Agora não tem mais para onde ir. Está mais endinheirado do que poderia sonhar, venceu Campeonato Espanhol, Copa dos Campeões da Europa, Copa do Mundo e foi duas vezes eleito melhor jogador do mundo pela FIFA. Ele não tem mais porque agüentar tudo que agüentou.

Ronaldinho está mais para Michael Jackson do que para Pelé na função que exerce. A indústria do futebol faz dele, em primeiro lugar, um ídolo pop. Como ele já conquistou tudo que podia e enriqueceu até a 15ª geração da sua família, não tem mais estímulo para suportar as pressões e continuar numa profissão em que o ambiente é mais sujo que pau de galinheiro. Não acredito que ele vá se aposentar, pois as pressões contrárias a isso são muito fortes. Mas que qualquer dia ele aparece branco e com um nariz fininho, disso eu não duvido não.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O porquinho tá out


A gripe suína te pegou? A mim também não, mas mesmo rejeitado pelo vírus fui saber como ele andava. Foi uma dificuldade só. Rodei por sites e mais sites atrás de qualquer notícia recente sobre a doença, e nada. Como persistência nunca foi meu forte, resolvi me contentar com o que achei de mais recente: uma matéria de 23 de setembro.

Entre abril, quando começaram os registros, e aquela data, a “epidemia” da doença “já” havia matado 1.047 brasileiros de um total de quase 10 mil contaminados. Os Estados que tiveram mais óbitos foram São Paulo (327), Paraná (242) e Rio Grande do Sul (183). A partir daí todos registraram menos que cem mortes pelo vírus, sendo que Amapá, Tocantins, Maranhão, Piauí e Ceará não tiveram nenhum óbito.

Esses dados revelam que, depois de todo furor causado pela mídia com a chegada da doença, o anunciado maremoto não passou de marolinha. Para se ter uma idéia, em 1998, na epidemia da dengue, 363 mil brasileiros foram contaminados, 30 vezes mais do que o número de contaminações registrados pela gripe suína este ano. De abril a setembro de 2009, enquanto 1.047 pessoas morriam no Brasil pela doença dos porquinhos, as doenças do coração vitimaram 98 mil pessoas, os acidentes com transportes mais de 15 mil, os confrontos entre bandidos e polícia 23 mil, a gripe normal 3 mil e até os acidentes de trabalho ganharam dos suínos, matando aproximadamente mil e 500 pessoas.

Além de obviamente exagerada, a cobertura da epidemia também foi no mínimo curiosa. Se de abril a agosto as matérias sobre ela eram quase diárias, em setembro praticamente não se ouviu falar no vírus – como prova a minha dificuldade em achar números atualizados. E sabe em que mês mais gente morreu pela doença? Justamente em setembro! Fica claro que a intensidade da cobertura não variou devido à gravidade do quadro, pois se fosse assim estaríamos até hoje agüentando as notícias exageradas que nos chegavam diariamente. É difícil saber porque tanta farofa foi feita em torno de tão pouco, mas é certo que nenhuma relação teve com a situação real.

A epidemia de gripe suína não pegou ninguém. Se você teve a glória de contrair o vírus pode se considerar um privilegiado, pois está numa lista seleta que inclui apenas 1 em cada 18.000 brasileiros. A mídia empurrou pela nossa goela bombas de efeito moral que não machucaram quase ninguém, mas assustaram uma turma forte. O curioso é ver que enquanto as doenças do coração matavam 98 mil e a gripe suína 800, muitas pessoas comiam no McDonald´s, deixavam de fazer exercício físico e se achavam prevenidas porque passavam álcool gel na mão.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Viva Feijó!

São Paulo tem 19 milhões de habitantes. É, de longe, o Estado mais industrializado e rico do Brasil, com um PIB de R$ 802 bilhões (mais ou menos 40% do total do país). Da política paulista saíram FHC e Lula, que governaram o Brasil nos últimos 16 anos. A capital de São Paulo, homônima, é uma das mais populosas e ricas cidades do mundo.

O Acre é uma gracinha. Tem 680 mil habitantes e um PIB de R$ 4 bilhões. Sua principal atividade econômica é o extrativismo e a maior discussão do Estado é se o atual modelo extrativista é sustentável. A capital, Rio Branco, com 260 mil habitantes, é do tamanho de Teresópolis. Parece pouco, mas é uma enormidade se comparada às cidades acreanas que a seguem em número de habitantes: Cruzeiro do Sul (86 mil), Feijó (40 mil), Sena Madureira (33 mil), Tarauacá (30 mil) e Senador Guiomar (21 mil).

Agora imaginem um país em que o Acre tem o mesmo poder que São Paulo. Imaginaram? Sejam bem-vindos ao Brasil!

As leis que valem igualmente para todo país são as da Constituição. Para se mudar alguma coisa deste documento é necessário ou que se faça uma nova lei ou que se elabore um Projeto de Emenda Constitucional. Qualquer uma das opções tem que passar pelo Congresso Nacional.

O Congresso brasileiro é dotado de duas câmaras: o Senado e a Câmara dos Deputados. A quantidade de deputados que cada Estado tem na Câmara varia de acordo com a população. Para que os Estados populosos não monopolizem as discussões, existe o Senado, onde cada unidade da federação tem um número igual de representantes (3).

Esse papo de “todo Estado deve poder se manifestar” é muito bonitinho na teoria, mas na prática gera uma situação absurda. Como qualquer mudança na legislação federal DEVE passar pelo Senado, onde acreanos e paulistas estão em igual quantidade, Acre e São Paulo tem a mesma possibilidade de dar pitaco sobre a mudança.

Repetindo: Um Estado industrializado com 19 milhões de pessoas e um PIB de R$ 800 bilhões manda tanto nas leis que são feitas no Brasil quanto outro com 600 mil pessoas e um PIB de R$ 4 bilhões.

O Brasil copiou esse modelo dos EUA. A diferença é que lá tal estrutura tem justificativa histórica, ao passo que aqui não tem. Além disso, na terra do Tio Sam a escolha do presidente é comandada pelos Estados mais relevantes, enquanto aqui o fato de se pertencer a um Estado ou a outro não muda nada na hora de eleger o presidente.

Importamos dos americanos um sistema que funcionou lá, mas que virou aberração cá. Um Estado extrativista de 600 mil pessoas e um dos pedaços mais ricos do mundo mandam igual na hora de fazer uma lei nacional. Tudo bem que a gente tem que ouvir todo mundo, que o Acre não pode ser esquecido só porque não faz diferença para o Brasil. Mas daí a querer forçar a barra pra fazer o anão parecer gigante já é demais. Viva Feijó! Não será esquecida jamais!

sábado, 12 de setembro de 2009

Quantos Tim Maias cabem em 100%?


Não faz muito tempo, ouvia por tabela a Rádio Globo que entretinha minha empregada. Entre uma e outra atração de altíssimo nível do programa do Haroldo de Andrade, foi divulgado o resultado de uma pesquisa que a própria rádio havia feito sobre honestidade. Pouco mais que 70% dos entrevistados responderam que denunciariam caso fossem informados sobre um esquema de corrupção.

Me senti o pior dos seres humanos. Eu não apenas compactuo com casos de corrupção como sou um corrupto incorrigível. Durante todo período da faculdade xeroquei sem dó textos e mais textos acadêmicos. Nunca paguei um só centavo aos autores, um absurdo! Na pelada que jogo semanalmente, os poucos reais que pago destinam-se a subornar o responsável por tomar conta da quadra, uma vez que a peleja ocorre infringindo algumas regras. Outra mamata da qual não abro mão é comprar ingresso como se fosse estudante para pagar meia, mesmo já tendo me formado há mais de um ano.

Minha agonia por ser um picareta numa terra de tão ilibados cidadãos só cedeu quando constatei que não estou só, uma vez que ao meu redor a picaretagem está disseminada. Sei de flanelinha que transformou triangulo de sinalização em estacionamento, de fraude em licitação e também de uma turma forte que se esforça pra sonegar o que consegue e o que não consegue de impostos. Além disso, tem amigo envolvido com bicho, com xerox ilegal de livros, com falsificação de carteira de estudantes, com drogas e com esquema de compra e venda irregular de bebidas. E no meio de toda essa máfia, eu, caladinho da silva, não denuncio nada.

Pensando melhor, não sei onde estão essas pessoas que afirmaram na pesquisa que denunciariam um esquema de corrupção caso soubessem. Preciso descobrir logo quem são esses nobres brasileiros para perguntar como eles conseguem viver em um país em que a corrupção é regra, mas mesmo assim mantém a postura e denunciam tudo que vêem de errado. Creio que no fim das contas chegarei a seguidores da filosofia de Tim Maia, que quando perguntado sobre drogas respondia: “Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouquinho”.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Falta um mês para 2016

O Rio de Janeiro está próximo de uma data histórica. Daqui a pouco menos de um mês, no dia 2 de outubro, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidirá qual cidade será a sede das Olimpíadas de 2016. O Rio é favorito ao lado de Chicago, condição confirmada pelo relatório que o Comitê divulgou esta semana, exaltando o apoio popular ao evento apesar de questionar o trânsito caótico, a violência e a precariedade da rede hoteleira.

A vinda das olimpíadas para o Rio seria uma bênção, a esperança real de que o município volte a ser decente. Esperar que os governantes ou a sociedade civil façam alguma coisa por vontade própria é utopia. Com a vinda dos Jogos Olímpicos seremos obrigados a melhorar a cidade, sob pena de perder os investimentos que viriam com o evento. A pressão para melhorar o Rio viria de fora, não de dentro, e não teríamos mais como escapar de ajeitar nossa cidade.

Os planos são bem animadores. A orla seria despoluída, o metrô expandido, as linhas de ônibus e vans regularizadas, a violência controlada e áreas degradadas da cidade revitalizadas. Comunidades receberiam atenção real do Estado, com postos de saúde, escolas, espaços de lazer e vilas olímpicas. Tudo isso parece sonho, mas cabe lembrar que parte dessas metas são exigências do COI, ou seja, não teríamos como ignora-las.

O único argumento contrário à vinda dos Jogos Olímpicos é o surradíssimo “Não podemos gastar dois bilhões em um evento esportivo enquanto as escolas estão precárias, famílias convivem com esgoto a céu aberto, etc etc”. Os comediantes que dizem isso devem se lembrar que o dinheiro não será gasto, mas sim investido. Além dos benefícios imediatos, os Jogos Olímpicos aumentarão permanentemente o turismo, por exemplo, tornando nossa cidade um lugar mais rico e mais capaz de atender as demandas sociais pendentes.

Corremos o risco de estarmos à beira de uma época de ouro para o Rio de Janeiro. A geração dos nossos pais herdou uma Cidade Maravilhosa e nos entregou um município em frangalhos, onde não se precisa esperar São Cosme e Damião para ganhar bala. Se no dia 2 de outubro o COI nos escolher para sede das Olimpíadas de 2016, teremos a esperança de reverter a decadência e deixarmos para os nosso filhos um lugar decente para se viver.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O brasileiro tem Dado em casa


E o vencedor é... Dado Dolabella! Dado deu de dez em qualquer previsão e ganhou “A Fazenda”, o Big Brother rural da Record. A competição estendeu-se por três meses, reunindo na mesma casa 16 artistas, projetos de artistas, projetos de projetos de artistas e por ai vai. Dado ganhou oito disputas diretas com outros concorrentes, sempre em votação popular, e por final teve 83% da preferência do público contra a roqueira Danny Carlos, embolsando a bagatela de R$ 1 milhão.

A votação maciça em Dado foi a consagração de outro brasileiro: Mario de Andrade. Em 1928 Mario escreveu “Macunaíma”, livro cujo personagem principal, que dá título à obra, era a síntese do que o autor acreditava ser o brasileiro: passava o dia inteiro reclamando de estar com preguiça, não era capaz do menor ato de autruísmo e não fazia nada de produtivo. Vivia do trabalho dos outros e de pequenos golpes. A única coisa que gostava era de “brincar”, fazer sexo em sua linguagem. Era um anti-herói típico, a quem o autor chamava ironicamente de “herói de nossa gente”. O herói picareta de um povo picareta.

Dado também é um anti-herói. Nasceu em família rica, morou a vida inteira no Leblon, gastou muito mais do que arrecadou, quase foi preso por agredir uma namorada, brigou com um apresentador de televisão e chegou até a ir para a cadeia por desrespeitar determinação da justiça. Como se não bastasse ter entrado em “A Fazenda” como bad boy, lá dentro arranjou confusão com oito participantes, na maioria das vezes sem nenhuma razão.

A votação de 83% em Dado aliada às oito vitórias que ele já havia conquistado contra outros concorrentes mostrou que, 81 anos depois, Mario de Andrade continua atual. O brasileiro ainda se identifica com o anti-herói. Se não se identificasse, Dado teria sido eliminado muito antes, uma vez que nenhuma razão politicamente correta o indicava como vencedor. O público cagou para o fato de haverem participantes que precisavam realmente do dinheiro e outros com histórias lindas de vida. Num raro rasgo de sinceridade, votou naquele com que se identificou e deu um foda-se para o moralismo.

A vitória de Dado mostrou que Macunaíma é mais atual do que nunca. A gente pode até fingir que é politicamente correto, que gosta da ética, que valoriza o esforço. Qualquer ser pensante que veja nosso país sabe que um povo decente nunca teria produzido o Brasil, mas a gente poderia continuar se enganando. A vitória de Dado nos tira essa possibilidade. Mostra cruamente que ainda somos macunaímicos. Podem nos roubar a Amazônia, as mulatas e os jogadores de futebol, mas nossa picaretagem ninguém tira. Somos anti-heróis! Somos picaretas! No fundo do mato virgem da fazenda, nasceu Dado Dolabella, herói de nossa gente!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tá o maior bafafá!


“Tá o maior bafafá”. Essa foi a definição de uma amiga para a briga que se desenrola entre a Globo e a Record. E o bafafá tá forte mesmo. A graça é que o foco da disputa deixou de ser a audiência e descambou para o lado da moralidade. A Globo acusa a Record de lavar dinheiro da Igreja Universal (oh!) e a Record acusa a Globo de monopólio (oh!), de se apropriar do dinheiro público (oh!) e de usar seus programas com fins políticos (oh!). No fim das contas, o sujo aponta para o mal lavado e a gente se diverte um bocado.

A rixa entre Globo e Record tem raízes profundas. A emissora carioca foi fundada em 1964 (ô ano glorioso!) e amargou dois anos de muitos prejuízos e pouca audiência. Em 1966, perto de fechar as portas, a emissora adotou uma programação baseada em jornalismo e telenovelas, conseguindo consolidar-se como líder de audiência. A liderança foi roubada justamente da TV Record, até então a maior emissora do Brasil.

Nas décadas de 70 e 80 a Globo viveu uma era de ouro. Vendeu a alma para o diabo e funcionava como sustentáculo do regime militar, ganhando em troca os benefícios da expansão da rede de telecomunicações pelo território nacional, uma das prioridades da ditadura. Devido a essa posição política altamente favorável, fazia o que estava ao seu alcance para massacrar as concorrentes. Conseguiu afogar a TV Tupi e a TV Paulista, mas a Record sobreviveu agonizando. Vendido em partes para o Grupo Sílvio Santos, em 1972, o canal chegou aos anos 80 na UTI, com pouquíssima audiência e quase nenhuma programação própria.

No começo da década de 90, veio a virada. A Record foi integralmente vendida para o empresário-bispo(-e sabe deus mais o que) Edir Macedo. O cordeiro de deus promoveu a lenta reestruturação da emissora, lavando nela os muitos milhões que suas igrejas arrecadavam sob forma de dízimo. Turbinada, a wash machine Record retomou o posto de segunda maior emissora do Brasil, e se preparou para a guerra contra a Globo, que embora líder já não era mais o furacão dos tempos militares.

A disputa que vem fazendo barulho nas últimas semanas já ocorria como guerra fria há tempos. A Record tirou da Globo os direitos de transmissão das Olimpíadas de 2012 e fez uma oferta pelo Campeonato Brasileiro que, dizem, chegou a dobrar a da concorrente, e só não foi aceita por questões políticas.

Aproveitando-se da denúncia do Ministério Público contra Edir Macedo, a Globo resolveu iniciar oficialmente as agressões na segunda, dia 10/8, dando amplo destaque à ação no noticiário. A Record não demorou a responder. Na sexta-feira, dia 14/8, organizou uma vigília de milhares de fiéis pelo Brasil inteiro “contra os ataques injustos da Globo contra a Record e contra a igreja Universal”. No domingo, fez um Record Repórter inteiro sobre os podres da Globo.

Essa briga ainda está no começo, e muitas agressões virão. Nós, telespectadores, ainda nos divertiremos muito com tudo isso. É óbvio que a Globo é picareta, que a Record lava dinheiro e que tudo vai acabar em pizza. O que não se sabe é como se comportarão pós-pizza as duas emissoras de ponta: se buscarão audiência com programação inovadora e de qualidade ou se apelarão pras “táticas superpop”. Resta a nós torcemos para que dê a opção A. Mas que tá o maior bafafá, tá!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ei, você ai, me dá um jeitinho ai!


No começo do ano, quando o “choque de ordem” reprimiu as ilegalidades muito ilegais no Rio, o “puxadinho” do bar Espelunca Chic, na Gávea, foi demolido. Não demorou e uma multidão reclamou da ação da Prefeitura, alegando inclusive que a irregularidade já fazia parte do bairro. Na mesma época foi derrubado um edifício ilegal na Rocinha, chamado de "Minhocão", o que também despertou a ira dos moradores locais: “Nós nunca temos nada e quando conseguimos alguma coisa eles vem tirar”, afirmou uma moradora. Nesta semana uma blitz na Zona Oeste rebocou carros com documentação irregular, e um motorista infrator afirmou: “Moro em São Gonçalo e vim até aqui trabalhar. Agora fiquei sem carro. Como vou voltar para casa?!”.

O que esses três episódios tem em comum? Simples: Todos são expressões genuínas da ignorância do brasileiro quando o assunto é o cumprimento da Lei.

A primeira Constituição brasileira foi outorgada por Dom Pedro I em 1824. Incrivelmente, 185 anos e seis Constituições depois ainda não entendemos o que é uma Lei. Como é possível alguém que está ilegal reclamar por ser punido? O discurso tradicional de que “o povo não tem escola e não sabe a diferença entre Carolininha de Sá Leitão e caçarolinha de assar leitão” até ajuda a explicar a ignorância. Porém, como aceitar que a classe média alta tenha se indignado com a demolição do puxadinho ilegal do Espelunca Chic da Gávea? Como explicar o fato de alguém instruído defender a bandalheira argumentando que ela já faz parte do bairro há mais de 20 anos? Quer dizer que se eu bato na minha mulher há 20 anos a agressão é tradicional e não deve ser questionada?

O problema do brasileiro não é apenas a falta de educação, mas também a crença de que o Estado é um pai. O governo, na verdade, é o exato oposto da figura paterna: enquanto a esta cabe cuidar, dando atenção diferenciada e satisfazendo nossos desejos, aquele estabelece regras gerais e cuida para que elas sejam igualmente obedecidas por todos, de maneira formal e impessoal, sem privilegiar ninguém.

Ai está a dificuldade do brasileiro. Como ele vê o Estado como patriarca, acredita que deve ser servido por ele, nunca desfavorecido. Como é obviamente impossível que todo mundo seja plenamente atendido em seus interesses, o "desfavorecido" não apenas se sente indignado quando “se dá mal” como se vê no direito de transgredir o Direito.

A equação, é claro, não fecha: se 99,9% dos brasileiros acreditam que a Lei só deve ser dura no quintal do vizinho, impera o quem-roubar-primeiro-ganha. E quem é o primeiro que pode roubar? O político, que tem poder e conhece o funcionamento da máquina. Ai a sociedade corrupta exime-se de culpa alegando ser essa classe "o" problema, dorme com a consciência tranqüila e acorda na mesma merda de país.

A cultura de não respeito à lei é generalizada. O político reclama do político que rouba, mas também rouba. A dona Maria reclama do político que rouba que reclama do político que rouba, mas não aceita que o prédio ilegal que está construindo seja demolido. O seu José reclama do prédio ilegal da dona Maria, mas questiona que seu carro irregular seja rebocado. No fim das contas, o problema não é a Lei, não é a falta de ensino, não é o político, não é a dona Maria e nem o Seu José: é o brasileiro, que acha que o Estado é o seu pai.

sábado, 8 de agosto de 2009

Jesus Cristo e o Cebolinha


Jesus é um personagem. Nos tempos de Roma, possivelmente para ajudar na criação de um aparelho de controle social, transformaram um indivíduo do oriente médio em profeta. Para fortalecer a lenda, adicionaram a ela uma série de crenças das religiões “primitivas”, a maioria delas nascidas do culto ao sol. O “filho de deus” dos católicos, assim, nada mais é do que um personagem criado a partir de uma série de histórias de fundo astrológico que foram humanizadas na figura de um cara gente boa e cabeludo que conseguiu feitos exdrúxulos como andar sobre as águas, curar enfermos, saltar de bungee-jump sem elástico e assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.

Jesus me faz lembrar o Cebolinha. O filho do Seu Cebola também é um personagem, atrai multidões e é difícil de ser imaginado na vida real. Ao contrário do que os romanos fizeram com Jesus, a falha de Maurício de Souza foi não ter aplicado ao seu personagem os mitos atribuídos aos profetas (não só a Jesus, mas a quase todos os outros) como andar sobre as águas, curar enfermos, saltar de bungee-jump sem elástico e assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. Se o autor tivesse sido um pouco mais ambicioso, talvez o Cebolinha tivesse deixado de estrelar apenas campanhas de vacinação e embalagens de nuggets e maçãs para virar “cordeiro de deus”.

Prometo enviar uma carta a Maurício de Souza pedindo que ele atribua a Cebolinha poderes sobrenaturais. Poderíamos lançar um gibi extra, no dia 25 de dezembro, entitulado “O verdadeiro Cebolinha” ou “O nascimento do Cebolinha” e começar a relatar sua vida mística, andando sobre as águas, curando enfermos, saltando de bungee-jump sem elástico e assobiando e chupando cana ao mesmo tempo. Como não teremos 300 anos para criar o mito, como os romanos tiveram, teremos que pagar algumas pessoas para dizerem que foram salvas, além de algumas testemunhas dos seus feitos mágicos. Também contrataremos pessoas para disseminarem a religião, prometendo que elas se tornarão santos em caso de êxito.

Com sorte, em 30 anos o filho do Seu Cebola já terá virado um profeta febre-mundial. Desbancaremos Jesus e faremos justiça pelos mais de 2000 anos de enganação dos pobres fiéis que acreditam que o “cordeiro de deus” anda sobre as águas, cura enfermos, salta de bungee-jump sem elástico e assobia e chupa cana ao mesmo tempo. Se tudo der errado, a gente aproveita que Cebolinha será popular, fala errado e nunca estudou para lança-lo como candidato favorito à presidência da república.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Você já traiu?

Quase toda mulher não solteira acha que tem um homem fiel. Para atestar o quanto de ilusão há nisso, resolvi pesquisar. Partindo do conceito bem simples de que trair é beijar outra mulher que não a sua, perdi meu tempo marcando em um papel quais amigos já haviam traído e quais nunca haviam (sim, gastei tempo fazendo isso). O resultado foi uma goleada: 46 dentre os 59 lembrados já haviam traído, o que equivale a 77%. Contando-se que parte dos amigos não foi analisada porque eu não tinha certeza da resposta e que alguns dos “não traidores” já devem ter pulado a cerca sem que ninguém soubesse, o percentual real deve ficar entre 80% e 90%. Como explicar esse chocolate?

Desde que o mundo é mundo, quem se relaciona tem a oportunidade de trair. Atualmente, devido à dinamização nos fluxos de comunicação e transporte, um homem entra em contato com muito mais mulheres do que entraria se vivesse no mesmo lugar há 20 anos. Com a multiplicação do contato, multiplicam-se também as oportunidades, que são hoje em maior número e mais fáceis do que nunca.

Certamente a maioria dos homens não as aproveitaria se isso fosse redundar em dores de cabeça posteriores com suas mulheres “oficias”. Porém, para infelicidade da legalidade, relacionamentos curtos e/ou sem compromisso não são mais mal vistos socialmente. A mulher “ilegal” pode perfeitamente pegar o cara e sumir que não será recriminada pelas amigas. No lado masculino, a traição não só não é mal vista como muitas vezes é glorificada no grupo de amigos. Onda atraente sem contra-indicação!

Com um ambiente de muitas oportunidades e poucos valores morais contrários, não trair passa a ser esforço constante. A única coisa que separaria o homem de consumar o ato seria uma fiel crença pessoal de que a traição é uma sacanagem com a mulher. Porém, como já dizia o poeta, where there´s a will, there´s a way. A mente masculina é pródiga em criar soluções criativas para aquilo que realmente a aflige, e é dela que vem muitas justificativas racionais que põem abaixo a barreira moral pessoal e sacramentam a opção em prol da traição, tais como: “Se eu ficar só com ela não consigo. Logo, é para o bem do relacionamento”, “Estou apenas testando se gosto dela de verdade” e o famoso “Comer puta não é trair”.

No universo masculino, trair é normal. Cool mesmo é não trair. Os homens, biologicamente picaretas, tem mais oportunidades do que nunca, mulheres que aceitam uma noite e nada mais e amigos que acham legal chutar o balde. Com um contexto tão propício, inventar desculpas que justifiquem racionalmente o ato é mole. Os que não traem são pouquíssimo – mesmo. Um conselho para as mulheres: se você tem certeza de que seu homem não te trai, não largue ele! Mas lembre-se que você tem no mínimo 77% de chances de estar errada.

Obs I: Uma mulher que tenha lido o texto pensará: “Nossa, que horrível! Mas não adianta nada ficar penando nisso”. Não adianta, mas que você vai pensar nisso antes de dormir, vai.

Obs II: Ainda bem que contei cada amigo que traiu com 1 tracinho. Tem alguns que, se eu fosse contar pela quantidade de vezes, ia gastar um dinheirão comprando caderno na papelaria.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre ser solteiro e sobre estar namorando

Sobre ser solteiro

O que é ser solteiro? Ser solteiro de verdade é uma arte.
A solteirisse é como o silêncio. Muitas vezes em um ambiente silencioso ligamos algum som (rádio, tv, etc) para não nos depararmos com o silêncio. O silêncio é amedrontador, é quando nos encontramos com nós mesmos e com a temida solidão. É natural, portanto, que para nos livrarmos dele lancemos mão de qualquer recurso que simule companhia.

Os solteiros agem da mesma forma. Não gostam de admitirem-se sós e para fingirem-se amados criam casos que nada tem de profundo. Convivem com o paradoxo de fazerem-se amados sem, entretanto, serem amados nem sentirem-se amados.

Ser solteiro sem tentar se enganar é uma arte, pois é o que te faz aproveitar o momento. Sempre olhamos os espinhos da rosa e julgamos nossa atual fase como inferior a uma que está por vir. O solteiro de verdade, ao contrário, aproveita o fato de não ter que dar satisfação, de não passar por crises, de não depender de outra pessoa para o seu bem-estar, de poder aproveitar verdadeiramente os amigos.

O solteiro de verdade aproveita o momento como ele é, sem se preocupar com os espinhos da rosa. A solteirisse faz falta – e muita. O problema é que a maioria só nota esta falta quando está namorando, e ai passa a desejar ser solteiro para se livrar de crises, compromissos, etc. Aquele que tem medo de ser solteiro acaba criando um ciclo interminável de futuro glorioso que nunca chega.

Para se saber o significado de ser solteiro, deve-se não deve-se perguntar a um outro solteiro, mas sim a alguém que namora. A opinião quase unânime é: aproveite muito o momento, algum dia você vai sentir falta disso. Amém.

Sobre estar namorando

O namoro chega a ser engraçado para quem vê de fora. Tudo é muito claro para os observadores, mas para quem vive o momento nada é – nem deve ser – uma equação previamente resolvida.

O começo são as mil maravilhas. Tudo é lindo. Há sempre a esperança de que o relacionamento vá durar muito somada à certeza de que a escolha do parceiro foi acertada. Cada um exibe seu lado mais vendável e por conseqüência as novidades positivas são constantes. Neste estágio os casais ainda costumam estar mais abertos para o mundo.

O meio do relacionamento é o período das relevações e do fechamento. Neste período todos acham que estão melhores do que todo mundo, que aquele namoro começado na euforia se solidificou e já é uma realidade de sucesso, o que faz com que o casal, no auge da prepotência, ache que um basta ao outro. Paradoxalmente, um também começa a observar os defeitos do outro, mas para não abalar a perfeição alcançada acaba virando o maior advogado do parceiro. Ao relatar o problema para alguém, por exemplo, faz uma descrição de porque aquele problema, em determinado contexto, visto de determinado ângulo, não chega a ser tão grande.

O final é a Era das Desculpas. A enorme maioria dos namoros se esgota ainda em curso. Ai vem a fase das crises periódicas e das tentativas cada vez mais absurda de remendos. O medo da solteirisse associado à decepção pela depreciação daquele relacionamento antes tão perfeito faz o casal se sabotar e procurar se agarrar em qualquer coisa que mostre que o relacionamento está vivo ainda. Neste estado, os observadores já notaram que o fim é uma realidade, mas o casal vira advogado do absurdo e argumenta por A + B que a realidade interna é diferente, que ainda há um gás oculto.

O fim é a hora de passar tudo a limpo. Terminada a necessidade de defender o relacionamento, vem o juízo real sobre todo período. Gradativamente, cada um vai vendo o que realmente acontecia. Vê-se que o problema que se defendia era realmente um problema dos graves. Vê-se o quanto de tempo se perdeu tentando se enganar sobre um defunto já decrepto. Deste choque de “quanto tempo eu perdi!” vem o primeiro gás da solteirisse, e para se recuperar o tempo perdido, os amigos – aqueles mesmos preteridos no meio da relação – e as noitadas – também consideradas “inferiores” no meio da relação – são as bóias de salvação.

Com a solteirisse, reinicia-se o ciclo de “sobre ser solteiro”.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Era Obama


A moda era Obama, agora não é mais. O governo dele será irrelevante. Ninguém vai querer saber. Eu não vou, minha mãe não vai, você não vai. Obama foi eleito para ser eleito, não para governar. Ele é um dos políticos cuja força simbólica de sua eleição já basta e seu governo acaba não sendo mais do que um mero complemento de todo processo que o levou ao posto.

Se eu perguntar sobre Nelson Mandela para vinte pessoas, por exemplo, todas saberão que foi presidente da África do Sul. Já se eu perguntar às mesmas vinte sobre o seu governo, acho difícil que alguém saiba uma vírgula sobre sua política social ou econômica. O significado de Mandela foi ter sido o presidente negro de uma nação racista, e dane-se seu governo.

Com Obama será a mesma coisa. Daqui a vinte anos sua administração terá sido esquecida. Obama não tem margem de manobra. Se não mudar nada, será execrado pela opinião pública. Se mudar muita coisa, a pistola da extrema-direita dispara, e eis um novo Kennedy. O que ele fará será se equilibrar no fio da navalha e promover as mudanças óbvias.

Os EUA vão sair do Iraque? Claro. Não há mais condição política para permanecer lá. Os EUA vão superar a crise? Claro. A crise não é do tamanho que se imagina e o capitalismo já se mostrou capaz de superar entraves muito maiores. O consumo de petróleo diminuirá nos EUA? Não. Só quando o petróleo secar, mas como sempre o ser humano vai inventar um jeito de driblar os problemas ambientais. As questões de vanguarda, como casamento gay, vão ganhar espaço? Claro. Não se pode parar o trem da história.

Esses são os principais pontos do governo Obama. O que ele terá a ver com o desenrolar deles? Nada. Seu governo já está escrito.

Obama foi eleito para ser eleito, não para governar. Pois bem: já cumpriu seu papel na história. Se ele tentar interromper o fluxo natural das coisas, terminará na bala e virará mito. Se ligar o piloto automático, terminará no Nobel. Essa é a sua grande – e única – escolha.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quem dá mais?

Nunca teve tanta gente no mundo. Nunca as pessoas se comunicaram tanto, seja ao vivo ou por meios de comunicação. Apesar disso, o número de satisfeitos com o próprio relacionamento – ou com a falta de um – parece ser uma raridade. O que percebemos é uma legião de solitários e uma enorme predominância de namoros por conveniência. Pare e pense: quantas pessoas ao seu redor vibram com a vida amorosa que tem? Na minha visão, umas das principais razões para esse aparente paradoxo é uma coisa que parece não ter nada a ver com os relacionamentos: a lógica do consumo.

Somos doutrinados a sermos consumistas. Desde pequenos aprendemos que o consumo é uma forma de inserção na sociedade, e também o que condiciona em que lugar dela nos posicionamos. Por mais conscientes que sejamos dessa lógica, acabamos por internalizá-la. Queremos sempre a novidade do momento, que, se adquirida, é prontamente consumida para dar espaço para a próxima. O novo seduz, mas dura apenas o suficiente para não travar a frenética roda viva.

Essa lógica perversa acaba naturalmente por extravasar o campo econômico e invadir as demais áreas de nossas vidas. Nos acostumamos a valorizar o bom, bonito e rápido em detrimento do consistente. É exatamente esse gosto pelo descartável o que invade o campo amoroso, vitimando prematuramente grandes histórias e promovendo o nascimento de romances descabidos.

Para se desenvolver um relacionamento é necessário calma e paciência. Já vi várias e várias reportagens com casais que estão juntos há décadas. A resposta para a pergunta “Qual o segredo de uma relação duradoura?” é sempre a mesma: “Paciência!”. Aliada à paciência, outro atributo fundamental para um longo relacionamento é a calma, o que permite a você ver além da cortina de fumaça e esperar o tempo certo de achar e conhecer alguém. Noutras palavras, ir descobrindo a pessoa aos poucos até se encantar, caso o perfil dela bata com o seu.

A lógica do consumo vai de encontro a esses comportamentos. Ao invés de ter a calma de esperarmos o sentimento se desenvolver no seu tempo, queremos tudo aqui e agora. Não importa as possibilidades de futuro, as afinidades profundas. Não importa nada que vá além da cortina de fumaça. Queremos ser prontamente atraídos por meia dúzia de duas ou três qualidade ocas, para nos encantarmos logo de cara e idealizarmos naquela pessoa algo que ela não é. Desejamos o produto mais bonito e empolgante.

Se a calma não concorda com a lógica do consumo, a paciência muito menos. Passada a empolgação dos primeiros encantamentos vazios, vem o choque com a realidade. Muitas vezes, quando se nota que a pessoa não é aquele ente maravilhoso fantasiado, o caminho óbvio é descartá-la e seguir para a próxima. A paciência de agüentar os defeitos do outro para, naquilo que te incomoda, achar a verdadeira graça, não tem vez.

Na outra ponta da decepção pós-euforia inicial, há os que se conformam com a mediocridade e jogam a poeira para debaixo do tapete. Obedecendo puramente à lógica do consumo, o sujeito simplesmente se desfaria do produto “sem graça” ou “defeituoso”. Porém, neste caso a separação é dolorosa e pode ter doídos efeitos colaterais. Para evitar sofrimento, portanto, opta-se por deixar rolar e conviver com um ex-parceiro em atividade ao seu lado.

A análise fria dos fatos poderia levar algum desavisado a crer que hoje o amor prospera mais do que nunca. Porém, o que se vê é o contrário. Parte disso deve-se à lógica do consumo que leva-nos a fazer escolhas baseadas em aspectos efêmeros das pessoas. Passada a euforia, descartamos o relacionamento ou nos adaptamos à mediocridade. Em tempos como os de hoje, quando a maioria dos namoros dura menos que um carro, paciência e calma são produtos em falta no estoque.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Você faz suas escolhas. Suas escolhas fazem você

“Na verdade, o que ninguém quer é sofrer”. Essa frase, dita por um amigo que já tomou uma bela rasteira na vida amorosa, capta de forma simples o desejo da maioria das pessoas quando se envolvem com alguém. Por mais complexas que as coisas pareçam, em última instância o que queremos é a felicidade – ao mesmo tempo em que fugimos do sofrimento como o diabo foge da cruz.

O problema é que a enorme maioria das pessoas teme a perda muito mais do que procura o ganho. Elas temem o ridículo, o abandono, a rejeição, e para evitar o sofrimento acabam orientando suas ações pelo medo.

E qual o maior conselho do medo? Simples: Não se arrisque. O risco é inerente à vida. Tomar decisões é um imperativo, e toda decisão trás consigo uma perda e um ganho. Porém, o que se pensa é que é possível viver sem se arriscar, pelas sombras, flutuando pelo éter da mediocridade. O que acaba acontecendo é que se opta pelo “inho” para evitar os vôos mais altos e o perigo das quedas mais dolorosas.

A burrice dessas opções aparentemente seguras é que elas levam a vôos mais baixo, que com o tempo revelam a sua mediocridade e acabam virando uma conveniência. A mediocridade suga e atrasa uma pessoa muito mais do que qualquer queda dolorosa. A queda ensina, a mediocridade emburrece.

Meu conselho sincero é um só, tanto para os que detestam o risco quanto para os que o amam: arrisque-se. No livro “Axiomas de Zurique”, onde os banqueiros suíços ensinam os mortais a investir, o risco é exposto da mesma forma. Não há “não arriscar”. Quando aceitamos o atoleiro da chamada segurança, o que na verdade ocorre é que assentimos a derrota antes mesmo de tentarmos, e estagnamos no atraso.

Arrisque-se, exponha-se, aposte. Não há outra opção, e, mesmo se houvesse, nada justifica uma vida medíocre em prol de evitar dores que vem, vão e fortalecem. O risco é inerente à vida e à evolução. No fim das contas, você pode tentar 5 para só acertar uma, mas certamente essa uma marcará muito mais do que as outras quatro, e com certeza será mais valiosa do que seriam cinco medíocres. Grandes pessoas arriscam. Nas palavras de Charles Chaplin: “O mundo é de quem se atreve”.

A Pirâmide da Múscia

A Cidade da Música já é mais pop do que qualquer atração que possa vir a receber. Antes mesmo de ser inaugurado, o complexo da Barra da Tijuca tem recebido atenção especial da gestão do prefeito Eduardo Paes e da mídia. Tudo isso porque descobriram o óbvio: a obra de quase meio bilhão, além de totalmente dispensável, tem gastos inexplicáveis e inúmeras falhas de execução.

Obras mal feitas, descoladas do interesse público e superfaturadas não são novidades para os cariocas – basta se lembrar dos piscinões abandonados, do portal/passarela/qualquer coisa no final de Ipanema e das eternas intervenções para despoluir a Baía de Guanabara. Sendo assim, a que devemos atribuir a atenção tão carinhosa dada à Cidade da Música?

Depois de 16 anos de domínio sobre a cidade do Rio de Janeiro, em 2008 César Maia amargou uma derrota humilhante nas urnas. Solange Amaral, candidata do então prefeito à sucessão, conseguiu a proeza de ficar apenas em sexto lugar, com pouco mais de 3% dos votos. Como se não bastasse, a bancada do Democratas, o partido de César Maia, perdeu 4 das 12 vagas que tinha dentre as 52 da Câmara de Vereadores. Esse resultado foi fruto de um terceiro mandato lamentável de César, associado ao desgaste natural de sua imagem após uma hegemonia tão longa.

Este espaço deixado pelo cacique político logo foi ocupado por uma nova patota. Eduardo Paes é novo, tem boa imagem, conta com o apoio do governador e do presidente e é picareta. Em resumo: tem o perfil ideal de alguém com todas as condições para ficar muito tempo no poder.

O problema é que César Maia é mal feito pica-pau, e essa turma nova sabe disso. Não vai demorar muito e o antigo faraó vai botar as garras de fora para abocanhar a fatia que perdeu do bolo. Ninguém sabe se ele voltará já nas eleições de 2010, buscando o Senado, ou se esperará 2012 para tentar a Prefeitura. Fato é que César Maia vem ai com tudo, e como Brasileiro tem memória curta, a reinvestida pode colar.

Se a nova patota conseguir rechaçar esse ataque, o próximo virá mais fraco e praticamente não haverá empecilhos para que ela fique um longo tempo no poder. Já se tomar um “X” (nome dado no automobilismo à situação em que um carro é ultrapassado por aquele que acabou de ultrapassar) sairá humilhada do cenário político e o faraó Maia pode voltar a reinar por muito tempo.

E a Cidade da Música com isso? Essa obra foi um erro político de César Maia. O então prefeito gastou o que não tinha, comprou briga com a opinião pública e entregou a construção inacabada para a nova gestão. Ora, se um dos objetivos principais de Eduardo Paes é inviabilizar a volta de César Maia, nada melhor do que explorar ao máximo esse erro do oponente, mostrando para a opinião pública todas as falhas e irregularidades do projeto. Não é por acaso que com apenas seis meses de governo a revisão das contas da obra já esteja adiantada – e, claro, apontando coisas do arco da velha. As investigações, que prometem uma enxurrada de denúncias, ainda são amplificadas pela cobertura da mídia, sempre solicita quando o assunto é falar mal do César Maia.

A Cidade da Música ainda vai dar muito o que falar. A nova patota de Eduardo Paes fará César Maia sangrar ao máximo para atrapalhar a tentativa de volta do ex-prefeito em 2010 ou 2012. O objetivo de todo esse circo é fazer da Cidade da Música a pirâmide de César Maia. Nas pirâmides os egípcios enterravam os antigos faraós. Na Cidade da Música a oposição tentará enterrar César Maia.

terça-feira, 30 de junho de 2009

O Brasil da seleção

Semana passada a seleção brasileira venceu a dos Estados Unidos por 3 x 0. Mesmo tendo sido apenas um jogo da primeira fase de um torneio secundário, os principais sites e jornais do país deram destaque ao resultado, com manchetes que pareciam disputar para ver qual era a mais vibrante. Mesmo sabendo que o futebol (lá vai clichê) é uma paixão nacional, nota-se que a atenção dada à vitória do Brasil é exagerada - talvez a maior do mundo em comparação à que outros países dão às suas seleções.

Na minha opinião, tal fenômeno deve-se ao nosso complexo de vira-lata. Em 1950, Nélson Rodrigues cunhou este termo para explicar a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa disputada em solo brasileiro. Segundo o dramaturgo, nos consideravamos inferiores frente às outras culturas mundiais. Esse comportamento, o complexo de vira-lata, devia-se, entre outras coisas, à nossa história. Durante os 450 primeiros anos o Brasil para o mundo era apenas um exportador de riquezas como cana-de-açúcar, café, cacau, mulatas, ouro, diamante, etc. Os países ricos - compradores - assumiam frente aos brasileiros uma aura de superioridade devido à sua situação privilegiada. Deles importávamos a cultura, num esforço inútil de nos equipararmos através da imitação.

Os tempos mudaram desde que Nélson Rodrigues criou a expressão. Nos últimos 60 anos o Brasil ganhou destaque inédito no cenário internacional. Conquistamos cinco títulos mundiais, filmes brasileiros disputaram o Oscar, a música brasileira ganhou o mundo através de uma trilha aberta pela Bossa-nova, e mais recentemente o país vem sendo até considerado candidato a (finalmente) virar potência.

Porém, ainda guardamos no fundo de nossos corações um complexozinho de vira-lata de estimação. Apesar de toda modernização do país, ainda é bonito o sujeito dizer que vai viajar para a Europa, ainda valorizamos o importado mais do que o nacional, ainda achamos chique usar expressões em inglês quando temos iguais ou melhores em português e, o pior de tudo, ainda damos nomes “estrangeiros” aos filhos (uso aspas porque duvido que Richarlyson, por exemplo, venha de algum lugar que não da cabeça do pai dele).

É ai que entra a importância da seleção brasileira. O Brasil é como aquele garoto que fica no canto da sala e nunca consegue chamar a atenção das meninas. Seu momento de brilhar é no recreio, quando ele, o mais habilidoso, é o primeiro a ser escolhido na pelada e faz cinco gols. O futebol é onde ele supera os que considera grandes, e por isso ele espera ansiosamente a hora do recreio e quando chega em casa conta tudo eufórico para a mãe.

A seleção brasileira é o que faz o brasileiro, por alguns momentos, superar o complexo de vira-lata e se sentir superior a qualquer país do mundo. É no jogo da seleção em que somos os melhores, os imitados. Ao invés de olharmos com inveja para os mais ricos, no futebol são os mais ricos que invejam a gente. Por isso nossa imprensa e nosso povo tem tanto orgulho dos feitos do combinado nacional, repetindo o que o garoto do parágrafo anterior faz ao chegar em casa e contar tudo para a mãe.

O Brasil não é mais o vira-lata da época de Nélson Rodrigues, mas também não chega a pastor alemão. Frente aos grandes, nos consideramos Lassies, na melhor das hipóteses. Amamos tanto a seleção porque é ela que nos faz sentir superiores e esquecer momentaneamente nosso complexo de vira-lata. Vibramos quando o Brasil vence os EUA por 3 x 0 porque é a vez da Lassie morder o Pitt-bull.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O natal dos Jacksons

Dia 25 de junho, exatamente seis meses depois do natal, será para sempre lembrado como o dia em que Michael Jackson renasceu. O ídolo pop já estava morto há tempos, mais precisamente desde que os escândalos e as esquizofrenias o tiraram da cena e levaram-no ao gueto de esquecimento. A morte biológica veio em boa hora, fazendo-o ressucitar da morte social e ocupar o lugar de mito, papel que nunca deveria ter deixado.


A pergunta que o mundo se faz agora é: quem matou Michael? Para mim, como já disse, ele estava há muito tempo morto, e a culpada desta fatalidade foi a indústria cultural. Este monstro que troca almas por dinheiro já fez várias e várias vítimas, dentre as quais podemos destacar, para não nos alongarmos muito, Marlin Monroe e Elvis Presley. O processo destes dois foi muito semelhante ao de Michael Jackson: talento, fama, dinheiro, loucura e morte social.


A industria cultural chegou a patamares inimagináveis no século XX. É uma forma desumana de tratar os artistas, buscando sugar deles o máximo de lucro. Para tal, adaptam-se à cultura os conceitos mais agressivos aplicados aos produtos feitos em série. O problema é que atrás do “produto” cultural encontra-se um ser humano, que muitas vezes não agüenta a pressão a que é submetido.


Michael Jackson já tinha uma cabeça complicada, fruto de uma infância difícil, e quando foi submetido à pressão da indústria não resistiu e entrou em processo de definhamento. Um adulto que precisava de carinho recebeu apenas um tratamento utilitarista, e não resistiu.


Quando o preto mais branco do mundo sucumbiu, foi deixado de lado. Após muitos escândalos e uma escalada de esquizofrenia, foi socialmente assassinado por aquela mesma indústria que o consagrou como rei do pop na década de 80. Michael foi parido pela indústria, morto pela indústria e renasceu com a morte.


Este renascimento o consolida em um lugar paradoxal. Talvez tenha sido ele o negro com mais vergonha da cor, mas talvez tenha sido ele quem mais fez pela cor. Foi o primeiro negro a vincular um clipe na MTV e também o primeiro a tocar nas rádios de rock. Com o seu talento, dinamitou as barreias estabelecidas pelo preconceito racial, alargando uma trilha que viria a culminar com a eleição de Obama.


Michael Jackson não morreu: renasceu para a história. Sua morte tinha sido decretada há muito tempo pela indústria cultural, mas agora ele voltou para ficar. Sua vida foi uma luta não intencional contra o preconceito. Seu legado é cultural e socialmente inestimável. Michael não queria ser preto, não queria ser adulto, não queria ser tão famoso, mas foi tudo isso e consolidou-se como uma das maiores figuras do século XX.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Vá ao maracanã e saia do Brasil

Ir ao Maracanã é pedir para acreditar um pouco menos no Brasil. Não há nada ali sinalizando que nosso país algum dia irá para frente. Quando você vai ao "templo do futebol" (se o templo dele é assim, imagina a "casa do futebol". Deve ser uma cabana no Maranhão) se lembra daquilo que tenta esquecer a cada segundo: vamos ficar atolados na merda a vida inteira. Na pátria do "farinha pouca meu pirão primeiro" o avanço não tem vez.

Na fila você já vê o que vem pela frente. Apesar do esforço hercúleo do governo para ordena-la através de grades de ferro, as pessoas buscam freneticamente formas de driblar o sistema e conseguir chegar lá na frente sem esforço. Vi pessoas furando no estilo "joão-sem-braço" tradicional, quando o sujeito apenas entra na sua frente e fica parado com cara de que nada aconteceu, e outros mais elaborados que achavam brechas entre as grades de ferro. O PM era obrigado a fazer serviço de inspetor de escola que cuida da fila da cantina para o pedrinho não passar na frente da mariazinha.

Dentro do estádio as cadeiras verdes já estavam lotadas e tive que ver o jogo todo sentado na escada. Comer ou beber alguma coisa era impossível, porque os poucos vendedores cadastrados mal conseguiam andar pelas arquibancadas. Para proibir que cada um estabeleça um preço para seu produto, a tabela vem estampada na camisa dos ambulantes. Cheguei ao extremo de ver que um deles andava com o isopor na frente da roupa e cobrava um real a mais pela bebida. Assim como no caso dos fura-filas, ele se achava malandro o suficiente para se dar bem às custas de todo mundo.

Depois de passar por esta experiência acho no mínimo irônico perceber que o brasileiro considera-se um povo "bom", "trabalhador", "honesto". Mais impressionante ainda é ver todo mundo malhando os políticos por serem corruptos. Os políticos apenas fazem o que todos nós, malandros, fazemos, só que tem nas mãos quantias e máquinas muito maiores.

O regime é representativo, não é? Então como um povo que fura fila e cobra um real a mais no refrigerante quer que seus representantes sejam símbolos de honestidade?

Cada país tem os castelos que merece.