quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vai explicar...

O Flamengo foi campeão brasileiro. Achei que morreria sem escrever essa frase, ainda mais quando a partir de 2003 o campeonato adotou o sistema de pontos corridos. A minha descrença justificava-se, pois um torneio em que venceria o que somasse mais pontos ao longo de 38 rodadas, em tese, privilegiava clubes com organização e planejamento – tudo que o Flamengo não tinha nem tem. Mas contra todas as previsões o título foi para o clube da Gávea, conquista que derrubou mitos aparentemente inabaláveis ligados ao sistema de pontos corridos. São eles:

Ganha quem tem estrutura extra-campo – Fora das quatro linhas o Flamengo é um microcosmo do Brasil. Muita gente manda, muita gente rouba e ninguém se entende. Essa zona reflete-se na falta de qualquer ação séria de marketing, em dívidas impagáveis com deus e o mundo e na falta de estrutura para o time, como um centro de treinamento decente. Se a posição na tabela fosse proporcional à estrutura, o Flamengo estaria bem encaminhado para a série D.

Ganha quem faz um trabalho seqüenciado e planejado – O Flamengo não poderia ter mudado mais durante o Brasileirão. Trocou a tática de jogo, os principais jogadores, o capitão, o técnico, o vice-presidente de futebol e até o presidente! Falar em trabalho continuado com um panorama como esse é brincadeira. Orçamento e plano de negócios estão tão próximos do rubro-negro quanto a paz mundial está da humanidade.

Ganha quem tem elenco bom, não apenas 11 jogadores – O banco do Flamengo em determinados momentos do campeonato parecia uma colônia de férias, devido à idade da garotada. Na falta de peças de reposição parte do time de juniores foi promovida na marra. Quando um titular se contundia era impossível manter a qualidade, pois não haviam reservas à altura. Prova disso foi que quando o Adriano se contundiu na penúltima rodada, o substituiu o todo-poderoso Bruno Mezenga (quem?).

Ganha o time que não perde pontos a toa – Um dos maiores defensores dessa lógica é Wanderlei Luxemburgo, que afirma que há várias pequenas decisões no campeonato. Se isso fosse verdade o Flamengo nunca teria sido campeão. Na reta final o time perdeu pontos para o Goiás em casa e para o Barueri, sem contar com resultados displicentes ao longo da competição, como o empate com o então lanterna Avaí, no Maracanã.

Racionalmente o Flamengo não tinha como ganhar. O clube atrasa pagamento, não tem estrutura, não tem elenco forte, não tem planejamento e perde partidas inacreditáveis. Obstante tudo isso, na hora H todo mundo resolveu jogar, a torcida foi junto e tudo fluiu. O Flamengo é o time ilógico de um esporte ilógico. Talvez por isso seja o que atrai mais torcedores de futebol, apaixonados pelo imponderável.

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