segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Viva Feijó!

São Paulo tem 19 milhões de habitantes. É, de longe, o Estado mais industrializado e rico do Brasil, com um PIB de R$ 802 bilhões (mais ou menos 40% do total do país). Da política paulista saíram FHC e Lula, que governaram o Brasil nos últimos 16 anos. A capital de São Paulo, homônima, é uma das mais populosas e ricas cidades do mundo.

O Acre é uma gracinha. Tem 680 mil habitantes e um PIB de R$ 4 bilhões. Sua principal atividade econômica é o extrativismo e a maior discussão do Estado é se o atual modelo extrativista é sustentável. A capital, Rio Branco, com 260 mil habitantes, é do tamanho de Teresópolis. Parece pouco, mas é uma enormidade se comparada às cidades acreanas que a seguem em número de habitantes: Cruzeiro do Sul (86 mil), Feijó (40 mil), Sena Madureira (33 mil), Tarauacá (30 mil) e Senador Guiomar (21 mil).

Agora imaginem um país em que o Acre tem o mesmo poder que São Paulo. Imaginaram? Sejam bem-vindos ao Brasil!

As leis que valem igualmente para todo país são as da Constituição. Para se mudar alguma coisa deste documento é necessário ou que se faça uma nova lei ou que se elabore um Projeto de Emenda Constitucional. Qualquer uma das opções tem que passar pelo Congresso Nacional.

O Congresso brasileiro é dotado de duas câmaras: o Senado e a Câmara dos Deputados. A quantidade de deputados que cada Estado tem na Câmara varia de acordo com a população. Para que os Estados populosos não monopolizem as discussões, existe o Senado, onde cada unidade da federação tem um número igual de representantes (3).

Esse papo de “todo Estado deve poder se manifestar” é muito bonitinho na teoria, mas na prática gera uma situação absurda. Como qualquer mudança na legislação federal DEVE passar pelo Senado, onde acreanos e paulistas estão em igual quantidade, Acre e São Paulo tem a mesma possibilidade de dar pitaco sobre a mudança.

Repetindo: Um Estado industrializado com 19 milhões de pessoas e um PIB de R$ 800 bilhões manda tanto nas leis que são feitas no Brasil quanto outro com 600 mil pessoas e um PIB de R$ 4 bilhões.

O Brasil copiou esse modelo dos EUA. A diferença é que lá tal estrutura tem justificativa histórica, ao passo que aqui não tem. Além disso, na terra do Tio Sam a escolha do presidente é comandada pelos Estados mais relevantes, enquanto aqui o fato de se pertencer a um Estado ou a outro não muda nada na hora de eleger o presidente.

Importamos dos americanos um sistema que funcionou lá, mas que virou aberração cá. Um Estado extrativista de 600 mil pessoas e um dos pedaços mais ricos do mundo mandam igual na hora de fazer uma lei nacional. Tudo bem que a gente tem que ouvir todo mundo, que o Acre não pode ser esquecido só porque não faz diferença para o Brasil. Mas daí a querer forçar a barra pra fazer o anão parecer gigante já é demais. Viva Feijó! Não será esquecida jamais!

sábado, 12 de setembro de 2009

Quantos Tim Maias cabem em 100%?


Não faz muito tempo, ouvia por tabela a Rádio Globo que entretinha minha empregada. Entre uma e outra atração de altíssimo nível do programa do Haroldo de Andrade, foi divulgado o resultado de uma pesquisa que a própria rádio havia feito sobre honestidade. Pouco mais que 70% dos entrevistados responderam que denunciariam caso fossem informados sobre um esquema de corrupção.

Me senti o pior dos seres humanos. Eu não apenas compactuo com casos de corrupção como sou um corrupto incorrigível. Durante todo período da faculdade xeroquei sem dó textos e mais textos acadêmicos. Nunca paguei um só centavo aos autores, um absurdo! Na pelada que jogo semanalmente, os poucos reais que pago destinam-se a subornar o responsável por tomar conta da quadra, uma vez que a peleja ocorre infringindo algumas regras. Outra mamata da qual não abro mão é comprar ingresso como se fosse estudante para pagar meia, mesmo já tendo me formado há mais de um ano.

Minha agonia por ser um picareta numa terra de tão ilibados cidadãos só cedeu quando constatei que não estou só, uma vez que ao meu redor a picaretagem está disseminada. Sei de flanelinha que transformou triangulo de sinalização em estacionamento, de fraude em licitação e também de uma turma forte que se esforça pra sonegar o que consegue e o que não consegue de impostos. Além disso, tem amigo envolvido com bicho, com xerox ilegal de livros, com falsificação de carteira de estudantes, com drogas e com esquema de compra e venda irregular de bebidas. E no meio de toda essa máfia, eu, caladinho da silva, não denuncio nada.

Pensando melhor, não sei onde estão essas pessoas que afirmaram na pesquisa que denunciariam um esquema de corrupção caso soubessem. Preciso descobrir logo quem são esses nobres brasileiros para perguntar como eles conseguem viver em um país em que a corrupção é regra, mas mesmo assim mantém a postura e denunciam tudo que vêem de errado. Creio que no fim das contas chegarei a seguidores da filosofia de Tim Maia, que quando perguntado sobre drogas respondia: “Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouquinho”.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Falta um mês para 2016

O Rio de Janeiro está próximo de uma data histórica. Daqui a pouco menos de um mês, no dia 2 de outubro, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidirá qual cidade será a sede das Olimpíadas de 2016. O Rio é favorito ao lado de Chicago, condição confirmada pelo relatório que o Comitê divulgou esta semana, exaltando o apoio popular ao evento apesar de questionar o trânsito caótico, a violência e a precariedade da rede hoteleira.

A vinda das olimpíadas para o Rio seria uma bênção, a esperança real de que o município volte a ser decente. Esperar que os governantes ou a sociedade civil façam alguma coisa por vontade própria é utopia. Com a vinda dos Jogos Olímpicos seremos obrigados a melhorar a cidade, sob pena de perder os investimentos que viriam com o evento. A pressão para melhorar o Rio viria de fora, não de dentro, e não teríamos mais como escapar de ajeitar nossa cidade.

Os planos são bem animadores. A orla seria despoluída, o metrô expandido, as linhas de ônibus e vans regularizadas, a violência controlada e áreas degradadas da cidade revitalizadas. Comunidades receberiam atenção real do Estado, com postos de saúde, escolas, espaços de lazer e vilas olímpicas. Tudo isso parece sonho, mas cabe lembrar que parte dessas metas são exigências do COI, ou seja, não teríamos como ignora-las.

O único argumento contrário à vinda dos Jogos Olímpicos é o surradíssimo “Não podemos gastar dois bilhões em um evento esportivo enquanto as escolas estão precárias, famílias convivem com esgoto a céu aberto, etc etc”. Os comediantes que dizem isso devem se lembrar que o dinheiro não será gasto, mas sim investido. Além dos benefícios imediatos, os Jogos Olímpicos aumentarão permanentemente o turismo, por exemplo, tornando nossa cidade um lugar mais rico e mais capaz de atender as demandas sociais pendentes.

Corremos o risco de estarmos à beira de uma época de ouro para o Rio de Janeiro. A geração dos nossos pais herdou uma Cidade Maravilhosa e nos entregou um município em frangalhos, onde não se precisa esperar São Cosme e Damião para ganhar bala. Se no dia 2 de outubro o COI nos escolher para sede das Olimpíadas de 2016, teremos a esperança de reverter a decadência e deixarmos para os nosso filhos um lugar decente para se viver.