segunda-feira, 11 de abril de 2011
Tsunami carioca (parte 3)
O Rio de Janeiro conseguiu a glória de se tornar um caos antes mesmo da chegada da Tsunami.
Os projetos da prefeitura atingiram parte do objetivo. A calha que estava sendo construída teve suas obras interditadas. A juíza da décima-quinta vara, cunhada da governadora, acusou-as de superfaturamento. Na verdade, era realmente um pouco estranho cada tijolo ter custado R$ 25 e o orçamento total ter um custo quatro vezes maior que o previsto. Com a interdição, a população invadiu o canteiro de obras para conseguir tijolos, cimento e tudo mais que fosse necessário para conter a Tsunami e reconstruir as casas, gerando conflitos com a polícia, alguns feridos e muitas prisões.
Aproveitando-se deste momento politicamente fraco do prefeito, a governadora chutou a paçoca e foi a Brasília pedir pessoalmente o início da “CPI da calha”. O prefeito, então, também foi obrigado a ir a Brasília elaborar uma articulação política pelo fim do início da CPI.
Apesar da calha ter sido um fracasso, o escoamento dos ricos para a serra foi um sucesso. O problema foi que o preço do pedágio triplicou em função de uma decisão extraordinária da concessionária que administrava a rodovia e se aproveitou do aumento no fluxo de carros provocado pela Tsunami, o que obrigou o município a arcar, gentilmente, com os custos extras dos fugitivos da enchente, gastando além do orçamento.
O projeto “Jet-Ski a um real” foi um sucesso. Esse é o problema. Como não havia nenhuma estrutura para a distribuição dos Jet-Skis, a fila virou uma zona, com arrastões e o famoso empurra-empurra. Isso obrigou a polícia a intervir, deixando cinco feridos e mais alguns presos. Além disso, os Jet-Skis esgotaram rapidamente, e algumas pessoas que haviam conseguido vários desses veículos na confusão passaram a vendê-los no mercado negro.
Outro problema foi que após conseguir os veículos, ninguém queria esperar pela Tsunami, e houve uma invasão das praias e lagoas por pessoas que nunca tinham pilotado Jet-Skis mas estavam loucas para usar os brinquedinhos. Após uma série de acidentes e muitas ligações para o disque-denúncia, a polícia teve de iniciar uma intensa repressão, que deixou mais alguns feridos e outro tantos presos.
À câmara dos deputados, ninguém foi. Afinal, naquele dia havia mais risco ainda da Tsunami vir, o show na Bahia ainda não tinha acabado e não havia festinha para ninguém. Sem deputados, a ajuda para as vítimas não foi votada. Entretanto, os aumentos concedidos de 50% no vale-paletó e no vale-alimentaçao, além da autorização para contratar mais dez acessores, não foram retirados.
Em breve, "A tsunami", a parte final da saga (dessa vez de verdade)
terça-feira, 22 de março de 2011
Tsunami carioca (parte 2)
Segundo dia
Em função dos desentendimentos quanto à responsabilidade da Tsunami, prefeito e governadora agiram do modo como bem entendiam.
O prefeito estava atônito, pois o incidente vitimaria principalmente os ricos moradores do litoral, ou seja, seu eleitorado. Por isso, não teve dúvida: criou uma guarda municipal, os “Anjos do Tsunami”. Estes bravos homens teriam como objetivo levar as classes mais abastadas para locais seguros, humildes mansões que a prefeitura tinha alugado na região serrana através do recém-criado programa “Morar Bem”.
Para poupar as moradias dos pobres ricos, o prefeito iniciou a construção de grandes calhas, para que a força das ondas fosse canalizada para outro lugar. Este lugar seria a encosta dos morros onde, coincidentemente, o eleitorado da governadora morava. Segundo o prefeito, “estudos complexos de ambientalistas comprovaram que a estrutura sólida dos morros teria toda a capacidade de escoar a água de volta ao mar”. Deve-se louvar a capacidade dos ambientalistas de elaborarem um estudo complexo em menos de 24 horas.
A governadora pensava de modo diferente. Para ela, a graça não era evitar o desastre maior, mas sim deixar que ele acontecesse com toda a força para só então agir como uma verdadeira heroína. Pensando nisso, criou o inédito programa de assistência “Jet-Ski a um real”. Este programa garantia a cada cidadão fluminense o direito de, a partir do pagamento de um real, adquirir um Jet-Ski e uma raspadinha da Loterj, para fazer valer o direito de ir e vir após o desastre e concorrer a um carro zerinho.
Na Câmara, aconteceu o de sempre: nada. Por falta de quórum, o presidente da Casa adiou para o dia seguinte a votação do projeto de ajuda aos afetados pelo desastre. De todos os deputados, só cinco compareceram, e mesmo assim para a festinha de aniversário de um dos faxineiros. Segundo relatos, grande parte dos ausentes já tinha saído da cidade há muito tempo com medo que a Tsunami resolvesse dar uma corrida e chegasse antes. A outra parte dos desaparecidos estava em Salvador, no show da Ivete Sangalo e do Chiclete com Banana. A sessão foi remarcada para o dia seguinte.
Fazendo a sua parte diplomática, o presidente, que naquele mesmo dia já tinha tirado o corpo fora e embarcaria em uma viagem à toda-poderosa Guiana-Francesa, desejou "Força a todo povo do Rio de Janeiro para resistir aos estragos provocados por esse vendaval". Era maremoto.
(Em breve, o final da saga...)
sábado, 19 de março de 2011
Tsunami carioca (parte 1)
O que parecia ser um dia normal no Rio de Janeiro - com um tiroteio aqui, uma crise na saúde ali - seria uma das datas mais memoráveis de sua história: o Instituto de Meteorologia, com aparelhos de ponta (usados pelos nazistas na Segunda Guerra), havia acabado de noticiar que uma Tsunami se aproximaria da costa da cidade em três dias!
Primeiro dia
A primeira ação do governo foi convocar uma reunião para decidir se a Tsunami era federal, estadual ou municipal. Foi decidido um aumento de impostos, para custear a reconstrução da cidade, e uma alta dos juros, pois o pânico gerado pelo maremoto poderia acarretar consumo em massa e alta não planejada da inflação.
Quanto à responsabilidade do evento ficou decidido que nada estava decidido. Enquanto a excelentíssima governadora defendia, sem qualquer embasamento, que o problema era “de responsabilidade do povo carioca, portanto municipal”, o prefeito empurrava de volta o pepino, e ainda exigia ajuda do governo estadual para enfrentar o problema. Argumentava que o principal afetado seria ele, pois as suas obras (de arte?) nos bairros nobres do Rio seriam destruídas.
Na câmara dos deputados a ação foi rápida. Os líderes dos principais partidos de esquerda (que parece direita), direita (que parece esquerda) e centro (que não aparece) marcaram uma sessão extraordinária para o dia seguinte com o intuito de votar um auxílio aos afetados pelo desastre. Nele, constava que cada vítima do Tsunami teria direito a uma indenização de cerca de dois salários mínimos, uma cesta básica e uma raspadinha da Loterj. Pelo esforço desumano de ter que comparecer a esta convocação extraordinária, cada deputado seria ressarcido em dez salários mínimos, receberia um aumento de 50% no vale-paletó e no vale-alimentaçao, além da autorização para contratar mais dez assessores.
(Em breve, a parte 2...)