terça-feira, 23 de abril de 2013

Pequeno dicionário de carioquês: as gírias cariocas!


Se identificou? Compartilhe! Não gosta? Sacaneie! Tinha esquecido? Relembre! Revisão e atualização da edição anterior.



0800
Diz-se de qualquer situação que não demandará gasto monetário. De graça. “O show será 0800”. “Pode vir que hoje é tudo 0800”


1. Partícula iniciadora de frase. "Aê, se liga (...)".
      2. Advérbio de lugar. "A parada está por aê”.


A porra toda
[Termo composto] "Tudo", com eventual viés agressivo. Totalidade do que está ao alcance. “Quebramos a porra toda”. “Sai xingando a porra toda”.


Arroz
Aquele que só acompanha. Sujeito que vive rodeado de mulheres, tem muitas amigas, e não pega nenhuma.

Sin. “Arame-liso” (cerca, mas não machuca); “mestre-sala” (só dança em volta); “Cantor de churrascaria” (canta enquanto os outros comem).


Beleza 
1. Cumprimento usual. “E ai, beleza?”
      2. Aceitação. “Tá ok, beleza!”
      3. Expressa exaltação. “Que beleza!!”


Boiola 
Homossexual masculino; gay; bichona; bicha; bambi; baitola; viadinho.


Bolado 
Condição de incompreensão momentânea ou preocupação em qualquer nível. “Tô ficando bolado”.


Bucha
Indivíduo com marra de malandro, mas que não passa de um tremendo prego; as antigas era chamado de malandro coca-cola (só dar um sacode que ele perde o gás).


Cabaço 
Sujeito trapalhão. "Tu viu que merda? Esse cara é mó cabaço!".


Caído 
1. Evento pouco divertido. “A festa estava caída”.
2. Mulher de traços físicos ou mentais pouco atraentes. “Achei a mulher meio caída”.


Coé 
Aglutinação de “qual é”.

      1. Partícula iniciadora da frase. "Coé, irmão, beleza?!".
      2. Partícula afrontativa. “Coé, irmão, tá maluco?!”
      3. artícula de incerteza. “Não entendi coé a do maluco”.


Conto 
Unidade monetária sem plural. "Essa parada custa 10 conto".


Dá uma moral (aê!) 
[Termo composto]

1. Pedir auxílio a outrem. “Dá uma moral pra eu empurrar o carro, aê!”
      2. Barganhar pequena vantagem. “Dá uma moral nessa dose, aê!”


Fluir 
Dar certo. “Meu projeto fluiu”. “Essa parada tá fluindo”.

Sin. “Rolou”.


Filhadaputa 
      1. Interjeição genérica de descontentamento. Pode ser usada após qualquer acontecimento desagradável e/ou inesperado.
      2. Adjetivo utilizado para humilhar, xingar, ofender aqueles que merecem.

Ver fura-olho.


Foda 
1. Qualificação indicativa de dificuldade. "Aquela parada é foda!".
      2. Qualificação positiva indicando algo muito bom "Aquela parada é foda!".
      3. Qualificação que indica algo impressionante "Aquela parada é foda!".


Fura-olho 
[Termo composto] Fala-se do indivíduo que, incapaz de conseguir realizar os feitos próprios, usufrui das glórias alheias.

Ver filhodaputa.


Goxtosa
Diz-se da mulher de formas físicas harmoniosas. Elogio glorioso. “Aquela garota nova da turma é muito goxtosa”. “Você viu a goxtosa que entrou no ônibus?”. “Tem uma goxtosa na mesa do lado”.

Irado 
      1. Qualificação positiva relacionada a um fato, ocorrência ou objeto. "O jogo de ontem foi irado!”.
      2. Qualificação positiva a um sujeito. “Aquele cara é irado”.


Já é! 
[Termo composto] Exclamação da pessoa que demonstra concordância com o que foi proposto. “Vamos embora daqui a uma hora?” “Já é!”.

Sin. “Demorô”.


Maluco 
Cara; sujeito; indivíduo. "Eu não conheço aquele maluco". “Estava com uns malucos da faculdade".


Maneiro 
Muito legal. Show de bola. Um estágio acima do simples “legal”. Às vezes menos eufórico do que “irado”.


Mermão (masculino) 
Aglutinação de “meu irmão”. "Aí, mermão, que parada é essa?"


 
Aglutinação de maior. “Ih, coé? Mó otário, aê!".


Na mão do palhaço 
[Termo composto] Diz-se da condição das pessoas entorpecidas, não importa com qual substância. "Virou dez copos de pinga e agora está na mão do palhaço”.


Nego 
Toma o lugar da terceira pessoa do plural. Curiosamente flexiona o verbo que o segue para a terceira pessoa do singular. “Nego vai pra festa amanhã” (Eles vão pra festa amanhã).  “Nego é muito burro” (Eles são muito burros).


Night 
Diz-se sobre a diversão noturna, comumente acompanhada de entorpecentes e saliências com outrem. Chamada de diferentes formas pelo Brasil, como “Balada” em São Paulo. “Partiu night hoje!”


Parada 
Substantivo genérico. Pilar da linguagem carioca. Refere-se a qualquer coisa para a qual a pessoa não ache um termo digno. "Que parada é essa?". “Qualquer parada me liga”. “Parada doida”. “Preciso fazer uma parada”.


Partiu 
      1. Interrogação sobre se é o momento certo de iniciar uma ação. “Partiu?”.
      2. Exclamação de quem julga ser aquele o momento certo para começar uma ação. “Partiu!”.


Paraíba 
Indivíduo nascido ou residente acima do paralelo que passa por Copacabana.


Peidão 
Covarde, frouxo, borra-botas. “Maluco mó peidão”.


Pela-saco 
      1. Pessoa chata; piegas.
      2. Puxa-saco; baba-ovo; rabiola.

Ver Arroz.


Perdeu a linha 
[Termo composto] Fala-se do indivíduo que cometeu um ato inconsequente/insensato. "Perdeu a linha e virou seis doses de tequila em meia hora". "Perdeu a linha e foi o centro das atenções na festa da empresa”.


Porra
Segundo sustentáculo da linguagem carioca.
      1. Interjeição ("Porra!").
      2. Substitutivo para “parada”. “Olha aquela porra ali!”
      3. Advérbio de intensidade. "Em São Leopoldo estava um frio da porra!".


Porrada 
      1. Coletivo genérico. Multidão - uma porrada de gente. Matilha - uma porrada de cachorros.
      2. Briga. Sujeitos em momento não muito romântico.


Se liga 
[Termo composto] Apelo por atenção para o que será dito a seguir. “Se liga, pra onde a gente vai hoje a noite?”.

Sin. “Então”.


Sinistro 
      1. Adjetivo que qualifica aquilo que acompanha. “O Neymar é um jogador sinistro”
      2. Adjetivo que expressa dificuldade. “Essa fase do jogo é bem mais sinistra que a outra”.


Tu 
Pronome pessoal do caso reto de comportamento esquizofrênico. Segue sendo segunda pessoa do singular, mas flexiona o verbo que o segue na terceira pessoa. "Tu viu","Tu faz", "Tu é".

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tsunami carioca (parte 3)

Terceiro Dia

O Rio de Janeiro conseguiu a glória de se tornar um caos antes mesmo da chegada da Tsunami.

Os projetos da prefeitura atingiram parte do objetivo. A calha que estava sendo construída teve suas obras interditadas. A juíza da décima-quinta vara, cunhada da governadora, acusou-as de superfaturamento. Na verdade, era realmente um pouco estranho cada tijolo ter custado R$ 25 e o orçamento total ter um custo quatro vezes maior que o previsto. Com a interdição, a população invadiu o canteiro de obras para conseguir tijolos, cimento e tudo mais que fosse necessário para conter a Tsunami e reconstruir as casas, gerando conflitos com a polícia, alguns feridos e muitas prisões.

Aproveitando-se deste momento politicamente fraco do prefeito, a governadora chutou a paçoca e foi a Brasília pedir pessoalmente o início da “CPI da calha”. O prefeito, então, também foi obrigado a ir a Brasília elaborar uma articulação política pelo fim do início da CPI.

Apesar da calha ter sido um fracasso, o escoamento dos ricos para a serra foi um sucesso. O problema foi que o preço do pedágio triplicou em função de uma decisão extraordinária da concessionária que administrava a rodovia e se aproveitou do aumento no fluxo de carros provocado pela Tsunami, o que obrigou o município a arcar, gentilmente, com os custos extras dos fugitivos da enchente, gastando além do orçamento.

O projeto “Jet-Ski a um real” foi um sucesso. Esse é o problema. Como não havia nenhuma estrutura para a distribuição dos Jet-Skis, a fila virou uma zona, com arrastões e o famoso empurra-empurra. Isso obrigou a polícia a intervir, deixando cinco feridos e mais alguns presos. Além disso, os Jet-Skis esgotaram rapidamente, e algumas pessoas que haviam conseguido vários desses veículos na confusão passaram a vendê-los no mercado negro.

Outro problema foi que após conseguir os veículos, ninguém queria esperar pela Tsunami, e houve uma invasão das praias e lagoas por pessoas que nunca tinham pilotado Jet-Skis mas estavam loucas para usar os brinquedinhos. Após uma série de acidentes e muitas ligações para o disque-denúncia, a polícia teve de iniciar uma intensa repressão, que deixou mais alguns feridos e outro tantos presos.

À câmara dos deputados, ninguém foi. Afinal, naquele dia havia mais risco ainda da Tsunami vir, o show na Bahia ainda não tinha acabado e não havia festinha para ninguém. Sem deputados, a ajuda para as vítimas não foi votada. Entretanto, os aumentos concedidos de 50% no vale-paletó e no vale-alimentaçao, além da autorização para contratar mais dez acessores, não foram retirados.

Em breve, "A tsunami", a parte final da saga (dessa vez de verdade)

terça-feira, 22 de março de 2011

Tsunami carioca (parte 2)

Segundo dia

Em função dos desentendimentos quanto à responsabilidade da Tsunami, prefeito e governadora agiram do modo como bem entendiam.

O prefeito estava atônito, pois o incidente vitimaria principalmente os ricos moradores do litoral, ou seja, seu eleitorado. Por isso, não teve dúvida: criou uma guarda municipal, os “Anjos do Tsunami”. Estes bravos homens teriam como objetivo levar as classes mais abastadas para locais seguros, humildes mansões que a prefeitura tinha alugado na região serrana através do recém-criado programa “Morar Bem”.

Para poupar as moradias dos pobres ricos, o prefeito iniciou a construção de grandes calhas, para que a força das ondas fosse canalizada para outro lugar. Este lugar seria a encosta dos morros onde, coincidentemente, o eleitorado da governadora morava. Segundo o prefeito, “estudos complexos de ambientalistas comprovaram que a estrutura sólida dos morros teria toda a capacidade de escoar a água de volta ao mar”. Deve-se louvar a capacidade dos ambientalistas de elaborarem um estudo complexo em menos de 24 horas.

A governadora pensava de modo diferente. Para ela, a graça não era evitar o desastre maior, mas sim deixar que ele acontecesse com toda a força para só então agir como uma verdadeira heroína. Pensando nisso, criou o inédito programa de assistência “Jet-Ski a um real”. Este programa garantia a cada cidadão fluminense o direito de, a partir do pagamento de um real, adquirir um Jet-Ski e uma raspadinha da Loterj, para fazer valer o direito de ir e vir após o desastre e concorrer a um carro zerinho.

Na Câmara, aconteceu o de sempre: nada. Por falta de quórum, o presidente da Casa adiou para o dia seguinte a votação do projeto de ajuda aos afetados pelo desastre. De todos os deputados, só cinco compareceram, e mesmo assim para a festinha de aniversário de um dos faxineiros. Segundo relatos, grande parte dos ausentes já tinha saído da cidade há muito tempo com medo que a Tsunami resolvesse dar uma corrida e chegasse antes. A outra parte dos desaparecidos estava em Salvador, no show da Ivete Sangalo e do Chiclete com Banana. A sessão foi remarcada para o dia seguinte.

Fazendo a sua parte diplomática, o presidente, que naquele mesmo dia já tinha tirado o corpo fora e embarcaria em uma viagem à toda-poderosa Guiana-Francesa, desejou "Força a todo povo do Rio de Janeiro para resistir aos estragos provocados por esse vendaval". Era maremoto.

(Em breve, o final da saga...)

sábado, 19 de março de 2011

Tsunami carioca (parte 1)


O que parecia ser um dia normal no Rio de Janeiro - com um tiroteio aqui, uma crise na saúde ali - seria uma das datas mais memoráveis de sua história: o Instituto de Meteorologia, com aparelhos de ponta (usados pelos nazistas na Segunda Guerra), havia acabado de noticiar que uma Tsunami se aproximaria da costa da cidade em três dias!


Primeiro dia

A primeira ação do governo foi convocar uma reunião para decidir se a Tsunami era federal, estadual ou municipal. Foi decidido um aumento de impostos, para custear a reconstrução da cidade, e uma alta dos juros, pois o pânico gerado pelo maremoto poderia acarretar consumo em massa e alta não planejada da inflação.


Quanto à responsabilidade do evento ficou decidido que nada estava decidido. Enquanto a excelentíssima governadora defendia, sem qualquer embasamento, que o problema era “de responsabilidade do povo carioca, portanto municipal”, o prefeito empurrava de volta o pepino, e ainda exigia ajuda do governo estadual para enfrentar o problema. Argumentava que o principal afetado seria ele, pois as suas obras (de arte?) nos bairros nobres do Rio seriam destruídas.


Na câmara dos deputados a ação foi rápida. Os líderes dos principais partidos de esquerda (que parece direita), direita (que parece esquerda) e centro (que não aparece) marcaram uma sessão extraordinária para o dia seguinte com o intuito de votar um auxílio aos afetados pelo desastre. Nele, constava que cada vítima do Tsunami teria direito a uma indenização de cerca de dois salários mínimos, uma cesta básica e uma raspadinha da Loterj. Pelo esforço desumano de ter que comparecer a esta convocação extraordinária, cada deputado seria ressarcido em dez salários mínimos, receberia um aumento de 50% no vale-paletó e no vale-alimentaçao, além da autorização para contratar mais dez assessores.


(Em breve, a parte 2...)