sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Pirâmide da Múscia

A Cidade da Música já é mais pop do que qualquer atração que possa vir a receber. Antes mesmo de ser inaugurado, o complexo da Barra da Tijuca tem recebido atenção especial da gestão do prefeito Eduardo Paes e da mídia. Tudo isso porque descobriram o óbvio: a obra de quase meio bilhão, além de totalmente dispensável, tem gastos inexplicáveis e inúmeras falhas de execução.

Obras mal feitas, descoladas do interesse público e superfaturadas não são novidades para os cariocas – basta se lembrar dos piscinões abandonados, do portal/passarela/qualquer coisa no final de Ipanema e das eternas intervenções para despoluir a Baía de Guanabara. Sendo assim, a que devemos atribuir a atenção tão carinhosa dada à Cidade da Música?

Depois de 16 anos de domínio sobre a cidade do Rio de Janeiro, em 2008 César Maia amargou uma derrota humilhante nas urnas. Solange Amaral, candidata do então prefeito à sucessão, conseguiu a proeza de ficar apenas em sexto lugar, com pouco mais de 3% dos votos. Como se não bastasse, a bancada do Democratas, o partido de César Maia, perdeu 4 das 12 vagas que tinha dentre as 52 da Câmara de Vereadores. Esse resultado foi fruto de um terceiro mandato lamentável de César, associado ao desgaste natural de sua imagem após uma hegemonia tão longa.

Este espaço deixado pelo cacique político logo foi ocupado por uma nova patota. Eduardo Paes é novo, tem boa imagem, conta com o apoio do governador e do presidente e é picareta. Em resumo: tem o perfil ideal de alguém com todas as condições para ficar muito tempo no poder.

O problema é que César Maia é mal feito pica-pau, e essa turma nova sabe disso. Não vai demorar muito e o antigo faraó vai botar as garras de fora para abocanhar a fatia que perdeu do bolo. Ninguém sabe se ele voltará já nas eleições de 2010, buscando o Senado, ou se esperará 2012 para tentar a Prefeitura. Fato é que César Maia vem ai com tudo, e como Brasileiro tem memória curta, a reinvestida pode colar.

Se a nova patota conseguir rechaçar esse ataque, o próximo virá mais fraco e praticamente não haverá empecilhos para que ela fique um longo tempo no poder. Já se tomar um “X” (nome dado no automobilismo à situação em que um carro é ultrapassado por aquele que acabou de ultrapassar) sairá humilhada do cenário político e o faraó Maia pode voltar a reinar por muito tempo.

E a Cidade da Música com isso? Essa obra foi um erro político de César Maia. O então prefeito gastou o que não tinha, comprou briga com a opinião pública e entregou a construção inacabada para a nova gestão. Ora, se um dos objetivos principais de Eduardo Paes é inviabilizar a volta de César Maia, nada melhor do que explorar ao máximo esse erro do oponente, mostrando para a opinião pública todas as falhas e irregularidades do projeto. Não é por acaso que com apenas seis meses de governo a revisão das contas da obra já esteja adiantada – e, claro, apontando coisas do arco da velha. As investigações, que prometem uma enxurrada de denúncias, ainda são amplificadas pela cobertura da mídia, sempre solicita quando o assunto é falar mal do César Maia.

A Cidade da Música ainda vai dar muito o que falar. A nova patota de Eduardo Paes fará César Maia sangrar ao máximo para atrapalhar a tentativa de volta do ex-prefeito em 2010 ou 2012. O objetivo de todo esse circo é fazer da Cidade da Música a pirâmide de César Maia. Nas pirâmides os egípcios enterravam os antigos faraós. Na Cidade da Música a oposição tentará enterrar César Maia.

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